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Com Poesia...


“Cantar o canto ensinado por Deus,Com poesia ensinar nossa fé...”

(Pe. Fabio de Melo – Vou Cantar Teu Amor)


Fim de uma primaveril tarde carioca... O calor do dia dá lugar à delicada brisa da noite que se anuncia. Calor e brisa... Contrários que se harmonizam com perfeição, capricho do Divino Autor da Vida que com maestria dispôs cada coisa em seu lugar, como se escrevesse versos de amor àqueles que ama. Tudo Ele fez com poesia, desde as estrelas com as quais salpicou as noites imemoriais do principio dos tempos até cada um dos que quis tornar seus filhos.



E ao chegar o tempo da nossa salvação, deu ao Seu Unigênito a mais primorosa flor da humanidade por mãe. Aprouve ao Criador revestir a humanidade de altíssima glória ao escolher que a vinda de Seu Verbo Eterno ao mundo se daria por meio do ventre virginal de Maria, o primeiro Sacrário da Terra. Dela Jesus aprenderia toda a poesia que permeou sua vida. Toda a doçura que destilou ao longo de sua vida brotava da poesia materna aprendida em seu cotidiano. Jesus exalou em todas as suas atitudes o perfume de Nossa Senhora. O jeito de Maria estava impregnado em Nosso Senhor. No precioso Sangue que jorrou no monte Calvário estava o DNA de Maria, todo o seu jeito de ser. Naquele momento em que a dor era a única realidade a olhos vistos, o Príncipe da Paz, Poeta da Vida fez brotar a mais perfeita expressão artística do Amor do Pai por Sua criação. Naquele cenário, usando três cravos e duas toras de madeira, Jesus entalhou a Salvação do mundo. Rompeu o céu e nos levou num vôo sem escalas ao coração do Pai, por meio da poesia da Cruz, mistério de dor que se transfigurou em amor.


Ora, tal poesia ressoa ainda hoje tão viva como outrora. A tumba vazia, tal qual uma caixa de infinita ressonância, grita ao mundo: “Não está aqui! Ressuscitou!”. Não seria possível reter cativo da morte Aquele que trazia em si a Vida Plena. O amor se fez canção no mistério da Paixão, Morte e Ressurreição de Cristo, canção destemidamente cantada com a vida de tantos santos, com o sangue de tantos mártires que ousando alto nos mostraram o Infinito que se fez hóspede do tempo. Homens e mulheres em cujos corações a poesia da criação, os versos de amor do Calvário jorrados encontraram um maravilhoso celeiro onde geraram frutos de trinta, sessenta e cem por um (Mc 4,20).

Hoje esta poesia me alcança o coração, tão transformadora como sempre. No poder do Seu Espírito, o Divino Autor sussurra-me aos ouvidos da alma: “Sois uma carta minha escrita ao mundo! Sois um caderno de versos de amor escritos por mim, endereçados aos que eu remi por meio da Cruz!”(2Cor 3,3).

Hoje me decido: QUERO SER ESTA CARTA!!! QUERO SER POETA DA FÉ!!! Cantar o canto que Ele ensinou, afinar meu coração no tom do coração de Cristo. Transmitir a fé por meio da poesia do amor. Escrever com Sua caligrafia os versos do Eterno nas páginas do tempo.

Hoje me comprometo: a poesia da Ressurreição será minha verdade! As palavras de Cristo serão vida em minha vida! Deixarei que seu jeito de traduzir o infinito aos simples de coração seja também o meu jeito de traduzir a poesia de Seu coração aos que de mim se aproximem. Proclamarei Seu Nome e enquanto durarem os dias de minha vida falarei do Seu Reino. Serei semeador do que é eterno, e seguirei semeando o amor no coração da humanidade, ainda que eu nunca as veja brotar. Mas seguirei semeando e buscarei colorir com a Divina Aquarela a vida e o hoje.

Hoje me comprometo, mas ao mesmo tempo coloco diante do Senhor todas as minhas fragilidades e limites. Confesso que não sei como cumprir esse comprometimento e nem mesmo sei ao que isso pode me levar, mas uma vez tocado pela canção de amor de Cristo, confesso que não saberia voltar atrás, pois já não consigo me lembrar de quem eu sou sem me lembrar de tudo que Ele transformou em mim. Depositário de tão imensa graça, relicário frágil de tão excelso tesouro (2Cor 3,7), rogo ao Divino Poeta que minha vida inteira rime com Seus versos.

Quero ser poeta do Eterno...
Com carinho e orações,
Roberto Amorim.
28/10/2008.

Oração

Há momentos em nossa vida que não há muito a se partilhar, não há muito a ser dito. Somente os silêncios bastam, e mesmo que não bastassem, a dor que os provoca trata de torná-los oração.

Portanto deixo aqui hoje somente este suspiro da alma, este jeito de partilhar algo de mim que faz parte da sinfonia que o Senhor tem escrito em minha vida. Alguns acordes dissonantes, à primeira audição, incomodam os ouvidos, mas logo percebemos que tornam mais sofisticada e mais bonita a canção de nossa vida. Falo por experiência musical própria.
Deixemos que o silêncio ore em nós.
Carinho e orações.
Alma de Cristo santificai-me.
Corpo de Cristo salvai-me.
Sangue de Cristo inebriai-me.
Água do lado de Cristo lavai-me.
Paixão de Cristo libertai-me do pecado.

Beijo a Tua Cruz
Que condena e esmaga o pecado em mim.
Ó Bom Jesus, ouvi-me
E dentro de Vossas Chagas escondei-me!
Não permitais que eu me separe de Vós!
Do espírito Maligno defendei-me!

Jesus, que nada me separe de Ti
Nem a vida nem a morte.
Seguindo-Te em vida,
Ligado a Ti com todo amor,
Seja-me permitido expirar contigo no Calvário,
Para subir contigo à glória eterna;

Seguirei contigo nas tribulações e nas perseguições
Para ser uma dia digno de amar-Te na revelada glória do Céu;
Para cantar-te um hino de agradecimento
Por todo o Teu sofrimento por mim.
Que eu também enfrente com Tu,
Com serena paz e tranqüilidade
Enfrentar todas as penas e trabalhos que possa encontrar nesta terra
Uno tudo a Teus méritos, às Tuas penas
Às Tuas expiações, às Tuas lágrimas,
A fim de que colabore contigo para a minha salvação
E para fugir de todo o pecado
Causa que te fez suar sangue e te reduziu à morte.
Destrói em mim tudo o que não seja do Teu agrado

Escreve em meu coração todas as Tuas dores.
Aperta-me fortemente a Ti
De maneira tão estreita e tão suave,
Que eu jamais te abandone nas Tuas dores.

Meu Deus, eu creio, adoro, espero e amo-vos!
Peço-vos perdão por aqueles que não crêem,
Não adoram, não adoram e não vos amam!

Meu Senhor, Te adoro, Te anseio infinitamente
Peço que fique sempre em mim para me fortalecer
Esteja sobre mim para me abençoar,
E com Teu Amor Infinito sempre, sempre me ama
Jesus, eu confio em Vós!
Vinde em meu socorro, Jesus!
Esmago-me hoje
Para poder nascer novamente contigo
Pois quero que a minha alegria
Seja a alegria de uma criança
Quero ser pequenino para poder um dia
Estar junto de Ti na Glória Celeste.
Quero seguir sempre os Teus caminhos
E me perder no Teu Infinito Amor.

Te peço, Senhor, liberta e renova o meu coração

Oh Belíssimo Esposo,
Mais belo que todos os homens,
Santo, Santo és Tu!
Belíssimo Esposo
Esconde-me em Teu lado aberto
Em Tua chaga de amor

Esconde-nos Senhor em Tuas chagas
Em teu Infinito Amor
Paz e Bem
Roberto Amorim

O ALTAR DE CRISTO, FRONT DOS HERÓIS

Vivenciando este mês vocacional que a Santa Igreja nos propõe, achei oportuno refletir aqui a respeito da figura dos nossos sacerdotes, vocação profundamente valiosa para o Reino de Deus. Espero que possamos todos nós, povo cristão católico, enxergarmos sempre o valor desta vida consagrada ao Senhor.

De tempos para cá, por causa de todo o aprendizado e vivência das diversas situações que a caminhada com Deus me proporciona, tenho sido profundamente tocado pelo mistério que envolve a figura do sacerdote, homem que transcende sua humanidade e a empresta a Cristo para que, de modo perene nos altares do mundo, continue a acontecer o sacrifício do Calvário. E por meio de tantos testemunhos de grandes e santos sacerdotes que edificaram minha fé, me convenço cada vez mais de que O ALTAR É O LUGAR DOS HERÓIS. Assim, trago ao coração dos filhos e filhas da Igreja esta reflexão humilde e grata ao Senhor pelo dom da vocação sacerdotal dos nossos pastores.

Falar do sacerdócio da Igreja em seus padres é falar do Calvário, da Cruz, do Sacrifício do Senhor, que nos remiu e rompeu para nós o céu para que lá pudéssemos entrar. Ora, isto é a Santa Missa: banquete sacrifical do Cordeiro de Deus, que unicamente pela unção das mãos do sacerdote traz aos nossos altares aquele instante que extravasou os limites do tempo, o instante em que o céu fez silêncio frente à imensurável dor do coração do Pai que assistia à entrega de amor do Seu Verbo Eterno. Portanto, se tal é a grandiosidade da Santa Missa, que mistério não reside na alma de um servo ordenado pelo poder de Cristo, servo este que, participando do único sacerdócio real do mundo – o de Cristo – é também o único a nos trazer este dom supremo, mistério de amor e dor?



Penso que no coração de um sacerdote deve existir ao mesmo tempo uma profunda gratidão e uma imensa perplexidade, pois como compreender que Deus se deixe ser manuseado pelas mãos da fragilidade humana? Certamente não são as mãos de qualquer um, mas são uma realidade finita que consagram o pão e vinho no altar por força da unção que lhe é conferida por Cristo, que sendo a vitima perfeita e também o único sacerdote digno de oferecer-se ao Pai em sacrifício redentor. Assim, é Cristo quem, na pessoa do ministro ordenado, se oferece na Missa. O que não deve, portanto, ocorrer na alma destes homens que recebem do próprio Senhor, pela autoridade da Santa Igreja, este múnus (autoridade) para que possam dar ao mundo o Santo Sacrifício?



Também me passa pelo coração o amor pelo altar, pela missão em si que deve haver no coração de cada padre. Antes mesmo do desejo de pregar, de servir ao Senhor seja no auxilio aos pobres ou qualquer outra meta, por mais nobre que possa ser o mistério da Santa Missa e a adoração ao Senhor devem ser a razão da vida do sacerdote. Toda a sua razão de ser é unicamente a razão de amar a Cristo na Eucaristia, e nela todos os desdobramentos característicos da missão devem ter seu ápice, seu ponto de partida e de chegada. Assim como a decisão por assumir tal missão não deve vir como fuga de si mesmo, e que não seja descuidado o dom sacerdotal dos que assumem frente a Cristo e Sua Esposa a missão do Altar, pois se tão indescritível mistério se dá no coração dos padres, que tristeza não menos profunda quando tantos que do Senhor receberam o chamado não o honram acima de tudo...



Por fim imagino quão feroz batalha vivem estes homens. Ainda que jamais tenha tido a coragem de tecer comentários muito fortes acerca disso, imagino a sanha assassina de Satanás para devorar e destruir o sacerdócio de Cristo na Igreja, investindo de modo tão selvagem contra estes heróis do Altar no intuito de arrancar este mistério de suas almas. Saibamos todos do profundo ódio que tem o demônio pelos sacerdotes que dão a vida pelo Cristo em cada Missa e a celebram com o coração inteiro entregue naquele momento juntamente com o Corpo e Sangue do Senhor. Sacerdotes esses que pela santidade com que viveram sua vocação arrancaram do Inferno milhares de almas que eram cativas das trevas. De modo muito especial, menciono aqui somente o grande Pe. Pio de Pietrelcina, que era violentamente atacado por Satanás, sofrendo insidias físicas inclusive. Este santo sacerdote, profundo adorador da Eucaristia, de tal modo compreendeu tal mistério que chegava a declarar: “O mundo pode passar sem o calor do sol, mas não sem a Santa Missa.” Portanto, igualmente intensa dever ser nossa intercessão pelos homens do Altar, que creio serem juntamente com a juventude, os alvos principais das hordas do Inferno.



Enfim, aqui deixo esta reflexão e partilha a respeito dos nossos pastores na terra. Saibamos que na alma de um sacerdote habita o mistério da Cruz, do Calvário, do Sacrifício do Senhor; que no coração dos padres, ainda que sendo um coração humano, o Verbo de Deus o inflama de amor pelo mistério eucarístico do Altar. E que nós peçamos ao Senhor que tenhamos também um coração sacerdotal. Que Deus os fortaleça em seu sacerdócio ministerial para que inspirem no sacerdócio comum dos filhos da Igreja este maior desejo de santidade e amor pela Eucaristia.



Termino com a certeza que me brota no coração após refletir a respeito da vocação do Altar:



O ALTAR É OLUGAR DOS HERÓIS.





Com carinho e orações,
Roberto Amorim.



21/08/2009

Amar é uma Decisão...

Não sei ao certo quão intensos podem ser os sentimentos na vida das pessoas. Aliás, mesmo na minha vida não estou bem certo disso também. Acho que na verdade não acredito muito que sentimentos possam ser intensos porque creio que não combinam entre si as duas palavras. Em minha opinião – que nem é pra ser considerada tanta coisa assim – sentimentos não tem muito a ver com intensidade. INTENSO me lembra TENSÃO. Sentimentos são profundos e as paixões sim são intensas. E por isso, efêmeras. Algo muito IN-TENSO não pode, portanto permanecer por muito tempo. A tensão se esvai em algum momento, junto com a intensidade. O tempo se encarrega de baixar a poeira e, de fato, é melhor que seja assim. Os olhos ficam turvos nas tempestades de areia. Isso não se dá com os sentimentos. Estes arraigam-se nas “vísceras” alma e cristalizam-se. Logo se tornam parte de nós. Tornam-se decisões! Por isso tenho aprendido que amar não tem tanto a ver com o sensual humano – leia-se sentir – mas muito mais com nossas faculdades volitivas. Aprendi que AMAR É UMA DECISÃO!



Penso assim porque há experiências em nossa vida pelas quais muitos não quereríamos passar. Se pudéssemos optar, sem dúvida escolheríamos ao menos não experimentar todas as conseqüências de certos acontecimentos. Mas mesmo em tais momentos algo dentro em nós nos impele a enfrentar a situação. Uma espécie de querer autônomo. Assim é com o amor, com o gesto de amar. Não tem tanto a ver com o sentir, mas com uma meta, um propósito. Se assim não fosse, o menor sentimento de decepção soterraria o amor.




É preciso decidir-se pelo amor! Diariamente! Tal como o Salvador. Jesus amou até o fim, até que não houvesse mais uma gota de sangue e suor em seu corpo humano. Mas não tanto porque tivesse sido crucificado e este foi o fim de sua capacidade de amar. Longe disso, amou sabendo que isso o levaria à cruz, à morte. Creio ser esse o significado do versículo bíblico: “Tendo amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.”(Jo 13,1). Amou até o fim, até a meta final.




Paro por um instante paro a reflexão aqui proposta e me lanço num pensamento que há tempos pulsa em mim: “Desejo tal amor para minha vida!”. Desejo amar assim. Sei que meu coração, por mais seduzido que possa ser por Deus – e nem é tanto assim quanto acredito ser – é fraco demais, e não comporta todo esse amor nessa dimensão. Então entendo a oração da Igreja: “Jesus, manso e humilde de coração, fazei o meu coração semelhante ao Vosso!”. Desejo sim amar com o coração de Cristo em meu peito. Além das decepções, além dos medos, aparências... Mas e se tal decisão me levar à morte? E se tal decisão me levar a precisar morrer pra mim mesmo no que mais prezo?




Bem... mesmo aí quero ter coragem para dar o passo à frente. Não quero hesitar nessa decisão, pois sei que na verdade o prêmio do amar não é ser amado em troca, mas tão somente amar, pois amar assim nos transfigura na imagem do Filho de Deus. Amar até o fim, ser fiel até o fim... Amar como Jesus amou!




Tenho por certo que é essa a decisão de minha vida. Desejo amá-lo e Nele amar também os que Ele me der. Ainda que me custe a vida ou o viver. Quero viver para isso!




Termino com a frase de São João da Cruz, pois creio que nessa frase encontramos a plena verdade acerca do amor:




“No entardecer de nossas vidas, seremos julgados acerca do amor houvermos sentido.”
Com o Amor do Coração de Cristo
Roberto Amorim

No Peito eu Levo uma Cruz*


O amor que transpassa o teu peito rasga no meu peito a gratidão.
(Ministério Missionário Shalom)

Creio que eu era ainda criança quando pela primeira vez pendurei em meu pescoço um pequeno barbante do qual pendia aquele singular sinal: uma trave vertical atravessada por outra horizontal, esta um pouco menor. Nelas repousava a imagem de um homem pregado, que só bem mais tarde fui aprender de quem se tratava. Naquele momento não fazia assim tanta diferença saber mais sobre a cruz ou sobre o personagem que nela se encontrava. Mas nem com muito esforço eu poderia intuir qual a dimensão que aquele símbolo tomaria em minha vida.

Lembro-me que não usava o crucifixo com tanta freqüência assim. Mas me lembro bem, ou melhor, SEI que numa das vezes em que tirei o cordão do pescoço, isso não foi mais suficiente para que a cruz saísse do meu peito. Tal qual um ferro em brasa, um carimbo incandescente, a cruz e tudo o que ela representava e viria a simbolizar para mim, toda a sua mística atravessava-me as roupas, o peito e imprimia sua marca em meu coração. Já não importava se da cruz eu me desfizesse, se a tirasse do pescoço... Dentro em mim ela já estava fincada no solo do meu Calvário interior. Constatei que ela havia invadido minha vida e dava o rumo de meus passos e o tom das minhas canções. Compreendi ali a realidade de um cavaleiro que, tão somente buscando servir o seu senhor, não se torna conhecido pelos seus grandes feitos e conquistas ou batalhas vencidas, mas pelo brasão do senhor ao qual serve que traz indelevelmente estampado em sua armadura. Vi que dentro em mim esse era meu maior anseio. Mas ao mesmo tempo em que percebia isso em mim, essa alegria de trazer na alma o brasão de Cristo, me questionava em algo que, uma vez respondido, passaria então a ser razão de júbilo ainda maior em minha vida: ao perceber que a cruz outrora trazida no peito e hoje na alma, tornara-se a insígnia de minhas andanças e vivências, eu me perguntava por que um sinal de violência animalesca e cruel se havia tonado alvo de meu fascínio e norte de minha fé? E estendo a outros essa reflexão que em mim pulsava: por que aceitar como símbolo uma imagem que menciona escancaradamente a violência humana que grassa em nosso meio e que tanto combatemos?

Entendo que o fascínio e atração que a cruz exerce sobre tantos corações - entre eles o meu – não estão e não podem estar em nenhum momento sobre um mórbido prazer de se contemplar o corpo espatifado de um jovem sobre a cruz. Não cultuamos a morte sob nenhum aspecto. Na realidade, olhar para aquele que transpassaram (Zac 12,10) é também deixar que nossos olhos transpassem o Gólgota e alcancem a mística da entrega da vida a um amor desmesurado pelos seus. Amor que ultrapassa toda a compreensão humana, que não entrega o que tem, mas o que é; que se entrega totalmente em razão do bem do próximo. No caso de Cristo, a salvação do gênero humano.

Assim descobri o porquê daquele símbolo ter afogueado de tal modo minha alma, meu coração. É desse modo que desejo me entregar: num amor que não veja ou consinta em limites na sua capacidade de doar-se e acolher. Tal como relata o evangelista: “Tenho amado os seus que estavam no mundo, amou-os até o fim.” (Jo 13,1). Não apenas um fim circunstancial, como amar até que se canse ou até que o amor se acabe, mas amar até que não haja mais o que amar; entregar até que já não haja nada mais pra ser entregue. Perder-se no Senhor e nele completar-se, como diz uma bela canção. E mais ainda: entender que tal entrega não se faz por mérito ou desejo de recompensa, ou mesmo pela vã esperança de assemelhar-se à glória do Cristo ou mesmo equipararmos nossa entrega à Dele. Mas viver tal entrega como sinal de eterna gratidão ao Senhor, em oferta de si mesmo por amor a Ele e aos irmãos. Amá-los sempre e mais e neles mirar o amor do próprio Deus. Encontrar sua Divina Face em cada rosto e assim servi-lo.

Amados irmãos de fé, mais do que crer no Senhor, creio que vivemos num tempo em que é necessário para nossa própria edificação vivermos em alguma dimensão esse amor pela Cruz do Senhor, sinal não de morte, mas de vida. É necessário estar disposto a dar a vida pela causa que dizemos crer. Não podemos mais viver uma fé estéril, de cumprimento de preceitos e obrigações, mas descobrir a razão de vivê-la será o sustentáculo para sermos fiéis até sua volta gloriosa. Nisso nós cremos! Nele esperamos!

Vivamos apaixonadamente o mistério da Cruz, pois a mística de tal entrega há de nos levar à intimidade do Seu Divino Coração.



Com carinho e orações,
Roberto Amorim.
Coqueiral de Aracruz – 02/08/2009.

*Música “Nova Geração” (Pe. Zezinho, scj)