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A História do Bebedouro

De modo atípico para aqueles que acompanham o blog IMORTAL JUVENTUDE, trago hoje uma história curiosa que me aconteceu há bastante tempo. Curiosa é o termo que encontrei para não chamá-la de tragicômica. Resolvi postá-la aqui, dado que sempre acabo contando tal história para muitos dos amigos virtuais com os quais convivo. Portanto, resolvi partilhá-la de uma vez por todas aqui no blog. Apesar de ser uma história deveras engraçada, creio que cabe como ilustração do tipo de situação à qual estamos sujeitos quando queremos realmente ajudar as pessoas. Bom proveito!


Há tempos pretendia divulgar a versão oficial deste caso que se tornou célebre em minha paróquia, já há cerca de uns dez anos ou mais, para evitar declarações desautorizadas que dêem margem a interpretações errôneas dos fatos ocorridos no caso. Pretendia ocultar os nomes dos envolvidos no caso, entretanto, sabendo que todos estão ansiosos pela versão na íntegra do caso, e por que não dizer para rir da minha cara - no bom sentido, certamente - , resolvi deixar os nomes verdadeiros das pobres almas que tomaram parte no emblemático caso do roubo do bebedouro.

                Pois bem, vamos à história (em itálico para dar mais dramaticidade testemunhal ao relato...)

O Bebedouro
                Há cerca de dez anos, talvez mais, o jovem Roberto de Castro Amorim, popularmente conhecido como Betinho,  fazia parte dos jovens músicos da paróquia São Tiago de Inhaúma, arquidiocese do Rio de Janeiro. Era um dos componentes do Ministério Karys, que existe até hoje na referida paróquia (Mandar aqui um salve pra galera do Karys... É nóis aí, galera!!! =D) .

                Um dia, num lindo sábado de sol de fazer inveja àquelas manhãs ensolaradas que apareciam no seriado dos Teletubbies, Betinho foi para o ensaio do ministério em sua paróquia. O sol forte das três da tarde consumia suas energias, que já não eram muitas por ter que carregar nas espáduas o violão e o contrabaixo que utilizava nos ensaios, isto sem contar o fato de seu físico ser totalmente definido: os ossos podiam ser contados a olho nu, em Braille por um cego maneta... Rsrs

             Ao chegar na paróquia, sentia-se feliz por saber que uma das poucas coisas que ali ainda funcionava a contento era o bebedouro, cuja água realmente era gelada. Embora todos os seus amigos e conhecidos tenham plena ciência de que ele preferira uma lata de coca cola injetada na veia, estava disposto a refrescar-se momentaneamente com a água do bebedouro paroquial.

                Para sua surpresa, um senhor muito atencioso (que chamaremos de Antônio, pois o nome do senhor jamais foi sabido por mim ou por qualquer outro envolvido na situação) estava fazendo qualquer coisa no bebedouro. Parecia querer desmontá-lo a todo custo, coisa que o jovem Betinho achou deveras curioso. Ao aproximar-se do bebedouro, o atencioso senhor lhe disse que não poderia beber água ali, pois o objeto apresentava defeito naquele momento. Ironia do destino, justo no dia que o pobre jovem poderia ter deixado de beber Coca-Cola para sempre, o bebedouro não funcionava. “Bem...” pensou ele, “... o jeito é comprar mesmo uma lata de Coca!” Puxa, que triste! Rsrs.

Roberto Amorim, vulgo Betinho
                Tendo comprado sua almejada latinha de refrigerante e após ter sorvido cada milímetro cúbico do néctar dos deuses que a lata continha, voltou à paróquia para iniciar o exercício de seu ministério musical. Enquanto afinava seus instrumentos, o simpático senhor que não lhe permitira beber água momentos antes inseriu sua enorme caixa craniana pela fresta da porta da sala de ensaio e com muita humildade pediu ao jovem que o ajudasse a retirar o bebedouro do lugar, pois precisaria levá-lo para trocar uma peça que comprometia o funcionamento do mesmo. Bem, já nessa época nosso amigo Betinho conhecia a Comunidade Canção Nova, e já tinha dentro de si algo de “franciscano”, de querer ajudar a todos. Além do fato de que no Evangelho o próprio Jesus Cristo nos manda fazer pelos pequeninos o que estiver ao nosso ínfimo alcance, pois desse modo estaremos fazendo por Ele mesmo.

                 Pois bem, justamente por isso o jovem não pensou duas vezes: desvencilhou-se dos instrumentos que afinava e prontamente dispôs-se a ajudar o necessitado senhor que consertava o bebedouro. Para tanto seria então necessário levar o bebedouro até um posto de gasolina que havia próximo à paróquia São Tiago. Curiosamente, nosso projeto de herói sequer atentou para o fato de que era muito estranho que alguém fosse consertar um bebedouro num posto de gasolina, mas como a atenção e perspicácia não é uma faculdade mental muito desenvolvida no jovem, ele não contestou a situação.

                O posto não ficava longe, entretanto tente carregar um bebedouro de alumínio e ferro sob um sol de 35°c com o físico invejável de um bambu chinês e vocês terão ideia da “facilidade” com que Betinho ajudou o senhor Antônio a levar o bebedouro até o posto. Ao chegar lá, deixando o bebedouro de 700 toneladas no chão, Antônio agradeceu a Betinho e o despediu sem maiores cerimônias. E nosso herói voltou à paróquia para seu ensaio, lépido e faceiro, sorridente e pimpão, feliz enfim por ter cumprido sua boa ação do dia. =D

                O dia transcorreu sem maiores sobressaltos. Na manhã seguinte, lá estava Betinho, apto e pronto para exercer o seu ministério musical na Santa Missa das nove horas, missa das crianças. Naquele domingo, entretanto, não haveria a Missa, mas sim a celebração da Palavra, presidida pelo então Seminarista Gleuson. Sem anormalidades ou problemas, a Celebração da Palavra seguiu naturalmente seu curso. E obviamente naquele dia Betinho tinha mais um motivo para agradecer ao Senhor, por lhe ter permitido ajudar a quem necessitava na tarde do dia anterior.  Ao final, nos conhecidos avisos paroquiais, o seminarista Gleuson, com ar grave e voz séria disse em tom solene:

“Bem, comunidade, entre tantos avisos importantes da nossa paróquia, destaco um que não é dos mais agradáveis. Ontem à tarde, quando eu chegava à paróquia, havia uma pessoa estranha mexendo em nosso bebedouro e disse que eu não poderia beber água porque o estava consertando. Infelizmente, hoje pela manhã descobrimos que o bebedouro FOI ROUBADO!”

                Silêncio sepulcral dentro de Roberto Amorim, vulgo Betinho. Olhares arregalados de todo o ministério Karys voltados para o perplexo jovem. Subitamente, risos frenéticos dos seus companheiros de ministérios e piadas chamando-o de Roberval, o ladrão de bebedouros. Nosso herói nesse momento ficara catatônico, imóvel, mais estático do que uma placa de mármore sob as rodas de um trator. Soube então que sua intenção de ajudar o senhor Antônio fora malograda, dada a má intenção do velho ladrão...

                Nos dias que se seguiram as piadas foram inevitáveis. Ladrão, safado, aproveitador, empresário do ramo de bebedouros foram algumas das palavras de apoio que recebeu carinhosamente de seus irmãos de comunidade. Dentre todas elas destacam-se as singulares palavras de seu pároco, Monsenhor José dos Santos Almeida. Numa das muitas conversas que teve com ele sobre o caso, o nobre sacerdote deu-lhe um de seus delicados tabefes nas costas, desses que são capazes de causar um edema pulmonar instantaneamente, e lhe disse do alto  de sua sabedoria acumulada ao longo de mais de quarenta anos de sacerdócio: “É, Betinho... Acho que você vai pro inferno...” Impossível expressar  o quanto tais palavras me confortaram e consolaram...


                Já são aproximadamente dez anos desde que tudo isso ocorreu. Nesse período, milhares de situações mais curiosas aconteceram na paróquia. Entretanto, esta talvez seja a mais propalada, mais do que as curas que acontecem no Grupo de Oração. Esta é a versão oficial da história. Foi escrita para todos aqueles que ainda tinham dúvidas acerca da veracidade dos boatos que ouvem nos corredores da paróquia de São Tiago de Inhaúma. Betinho continua sendo paroquiano da comunidade. Entretanto, Monsenhor José dos Santos muito sabiamente não permite mais que ele beba água na paróquia e também, num ápice de confiança em seu amado jovem, resolveu acorrentar os bebedouros da paróquia nas paredes, alem dos parafusos imensos que hoje os fixam nos devidos lugares.

               Agradeço a todos que leram minhas palavras. Espero que tenham gostado da história. E lembrem-se: ÁGUA É VIDA!!!
                                                                                                                           
                                                                                                                            Roberto de Castro Amorim
Rio de Janeiro, 23 de novembro de 2010.


PS: Toda essa história me deixou com muita sede...
Rsrsrs 

SILÊNCIO FEBRIL (Noite Escura da Alma)


            
             Algo ainda resta dentro em mim que não permite ao meu coração desacorrentar-se do mistério que nele habita. Mistério ora claro, ora escuro; ora eloqüente e dinâmico, vez por outra mudo e apático. Mistério simples e insondável, que obstina meu coração a querer mergulhar dentro dele e jamais sair de lá outra vez, ao mesmo tempo em que intimida e me repele, dada a profundidade a que me convida. 

            Há em mim treva e luz, ambas partes da mesma tela pintada em meu ser. Meu coração abriga em si tal condição não por sua natureza, mas por encontrar-se à beira do seu próprio abismo, onde habita o efêmero e o eterno. No mais profundo de mim mesmo, onde a razão é desterrada de sua imponente cátedra de marfim, reside o TUDO que almejo alcançar e tocar. No mais intimo de mim habita também a treva que me “guarda” de perder-me no Absoluto de meus dias; a escuridão que me oculta e protege de deixar-me consumir pelo TUDO. Será esta treva um anjo? Será um demônio que me retém escravo de mim mesmo?

            Muito já ouvi acerca das realidades celestes e das realidades infernais, e de sua total discrepância. Hoje sinto e percebo que ambas são feitas de FOGO, e ambas desejam consumir meu interior. A celeste me abrasa e impele, e me lança impiedosamente ao abismo do TUDO; a do inferno, me abrasa e me guarda, mantendo-me cativo numa inexpugnável fortaleza de medos e limites, vivendo o conforto e a segurança de não deixar meu coração perder-se e optar por salvar-se. Ambas me abrasam, me queimam, me consomem... 

            Como disse o apóstolo João ao mestre, “Que caia fogo do céu e os consuma”(Lc 9,54), é este o ultimo grito interior do qual me lembro ter ouvido. Seja o braseiro celeste, a incandescente lareira eterna o destino último desta pobre acha de lenha que sou eu. Por hora, crepita algo dentro em mim. Labaredas vivas e selvagens, que me pedem este silêncio febril. Qual o braseiro arde em mim e me consome, somente o tempo, sacerdote das humanas razões, me dirá...  


Roberto Amorim
19 de novembro de 2009 – 19:30h.

Onde estão os Adoradores?

Há cerca de um mês, enquanto conversava a respeito dos rumos que a juventude católica tem trilhado, me veio ao coração uma imagem que jamais tive a ousadia de pensar. Creio por isso que me tenha sido genuinamente inspirada pelo coração de Deus. Na imagem, eu me via entrando pelo corredor central de uma imensa igreja. Sobre o altar, ladeado por duas velas, via o ostensório expondo à adoração o Santíssimo Corpo de Cristo. Porém, todo o templo estava vazio. E além de vazio, parcamente iluminado pelas velas do altar e por frios feixes de luz que atravessavam os vitrais. O altar e o presbitério desnudos, vazios de qualquer ornamento que honrasse a presença Eucarística de nosso Senhor. E ao aproximar-me um pouco mais, pude discernir no chão da igreja, caídas, estilhaçadas, as imagens dos santos que compunham a beleza contemplativa do templo. Esta era a cena que me vinha aos olhos do coração: as imagens dos santos espedaçadas pelo chão do templo frio e vazio, em cujo altar a Presença Eucarística de Nosso Senhor Jesus Cristo permanecia solitária e esquecida.

 Com profunda tristeza no coração eu pensava no que podia significar essa imagem e o que me queria dizer o Senhor com ela. Ao longo dos dias em que passava pensando no assunto e na imagem, ia sentindo que algo muito intenso crescia em mim, um firme desejo de responder com maior doação e entrega aos sonhos Dele para nós, juventude católica PHN. Buscar mais intensamente Sua Vontade para que Ele me sustente na santidade que me inspira. Sentia então que ia chegando ao significado dos detalhes da imagem que me dera o Senhor e que aqui desejo partilhar.

A primeira coisa que compreendi foi a respeito da presença de Jesus sobre o altar mesmo na fria solidão daquele templo. Sentia no coração a profunda certeza de que Ele sempre estará sustentando a Sua Igreja, em eterna oblação no Calvário do Altar. Exposto, entregando-se eternamente como alimento de santidade aos que compõem o corpo místico da Esposa do Cordeiro. Mas logo senti outra indagação na alma: se está o Senhor exposto no altar, onde estão os ornamentos e flores que deveriam enaltecer o Trono Eucarístico do ostensório? E mais ainda: onde estão os adoradores?

A resposta veio-me como um raio, ferindo e incendiando meu coração. Sentia como se o Senhor me dissesse: “Já não há mais adoradores! É preciso que minha juventude volte a estar aqui diante de mim!”. E esta é a mensagem que gostaria de dividir aqui com meus irmãos de caminhada: As flores que adornam o altar de Nosso Senhor Jesus Cristo são a nossa juventude entregue a um verdadeiro espírito de adoração. Nós somos os ornamentos que atrairão os olhos e corações para Jesus. Somos nós as flores que, sem renunciar à nossa beleza particular, apontamos tão somente para Ele, e unicamente por Ele temos razão de estar aí. “Quantas vezes estamos na igreja por todos os motivos do mundo, menos por causa de Jesus Cristo?” eu me perguntava. Nossa energia de jovens, entusiasmo, alegria e até a santa rebeldia da juventude precisa mais do que nunca florir e perfumar a Igreja, para que o mundo veja em nós o sinal da nova humanidade gerada a partir do mistério da tumba vazia. Uma juventude ressurrecta, curada, alimentada na Eucaristia, com uma fornalha de amor no peito! Precisamos honrar o mistério Eucarístico tal quais as flores que honram o altar de Cristo em Sua Santa Igreja!

  Como se já não fosse o bastante tudo isso, ainda uma parte da imagem não compreendia: por que jaziam quebradas, destruídas, as imagens dos Santos da Igreja? Senti mais uma vez a voz do Senhor dizendo-me: “Os fiéis estão caindo! É preciso ser fiel por aqueles que já não são!”. É chegado o tempo de a juventude católica assumir para si a santidade que Deus espera de nós! Basta de vidas vazias e santidade de vitrine! É tempo de testemunharmos autenticamente o amor de Cristo, testemunho fiel e decidido no lugar dos que não são fiéis. Ao mesmo tempo vemos tantos irmãos de caminhada caídos, cansados, desmotivados, entregues a prisões das quais o Senhor já os tinha libertado... Portanto, nosso testemunho, antes de ser jogado na cara desses que se perderam, precisa ser um testemunho sacrifical, de amor pelo Senhor no lugar dos que Dele se esqueceram; precisamos viver um testemunho intercessório, que leve ao altar de Deus estas almas preciosas que Ele deseja ter de volta em Sua Casa; e um testemunho incendiário, que lhes abrase o coração e lhes dê o desejo de voltar ao coração de Deus. 

Em cada inspiração que me dava o Senhor acerca da imagem, uma certeza me vinha ao coração: somente por meio de um profundo amor eucarístico tal testemunho será possível! Um amor eucarístico em dois sentidos: primeiro, um coração profundamente tocado por Deus, adorador do corpo, sangue, alma e divindade de Jesus na Eucaristia. E enfim, um amor com o Coração Eucarístico do Senhor, coração rasgado, entregue, consumido de amor pelos irmãos. 

Confesso que muito mais do que um canal desta mensagem do Senhor à juventude, sinto-me alvo dela. Ainda que soasse absurdo, senti desde o inicio que vinha de Deus a inspiração desta reflexão e não poderia trancafiá-la em mim. Longe de sentir-me isento de tudo isso, desejo ser o primeiro a ser tocado pela voz de Deus para que Ele me leve a ser ainda mais fiel aos Seus desígnios. Desejo estar diante Dele e adornar seus átrios com a flor da minha juventude, e trazer para o Seu altar, no meu coração, todos que um dia ouvirão a voz de Deus se eu tiver a coragem de viver com fidelidade o meu testemunho.
Desejemos isso, Geração PHN! Sejamos fiéis na santidade, pois há almas a serem salvas por força do nosso testemunho!

“Te amar por quem não te ama
Te adorar por quem não te adora.
Esperar por quem não espera em Ti,
E pelos que não crêem eu estou aqui!”
(Estou Aqui - Dalvimar Gallo)

Com carinho e orações
Roberto Amorim