“Se salvarmos a Liturgia, seremos salvos por ela.”
(Pe. Paulo Ricardo de Azevedo Junior)
Há alguns dias tive a oportunidade de ser convidado para uma missa em ação de graças pelo aniversário de alguém muito querido para mim, alguém que de certo modo conquistou-me para a música de Deus e através de quem muito aprendi sobre como ser ministro de música. Fui convidado justamente para exercer na missa este ministério que me foi confiado por Deus desde minha juventude, ao lado do aniversariante e de outros músicos que com ele já tocam há algum tempo. Por conta desse aprendizado hoje me atrevo a dizer que sei bem o valor do meu dom musical, e de modo mais especial posso dizer que minha música acontece em plenitude na Santa Missa. Falo “minha música” no sentido de que o dom que recebi por misericórdia de Deus encontra sua realização máxima quando tenho a oportunidade de exercê-lo no Supremo Culto de Adoração a Deus que é o Santo Sacrifício da Missa. Enfim, tal é o aprendizado que tive ao longo do tempo de serviço como músico em minha paróquia, muito dele, repito, com a pessoa que me convidou a estar na sua missa de ação de graças.
Bem, não há aqui de nenhum modo o intuito de acusar ou denegrir em nada as pessoas que fizeram parte do ministério de música na referida celebração. Porém, em nome da santidade da Liturgia Católica, creio ser necessário apontar erros e excessos, despautérios que não poucas vezes são cometidos em nossas celebrações, em nome de pretensos sopros de inspiração do Santo Espírito. Torna-se portanto indispensável que nós, músicos, entendamos que a liturgia nos é dada como uma realidade divina exercida na vida do povo, pertencente à Sagrada Tradição da Igreja Católica. Desse modo, não nos cabe qualquer acréscimo artístico, espiritual, estético na sua essência. Afigura-se como ridículo e pretensioso de nossa parte querer impor juízos e gostos particulares à celebração, elementos que ficam destoantes do espírito da mesma.
Para que tomemos como orientação prática para nosso ministério, é interessante tomarmos consciência de que algumas palavras ditas pelo sacerdote durante a Missa expressam muito mais do que parecem e podem ser entendidas como alerta para o nosso ministrar. Quando por exemplo o sacerdote diz, após o momento do Cordeiro de Deus: “Felizes os convidados para o Banquete Nupcial do Cordeiro!”.Além de todo o sentido místico que se encerra neste convite, creio que cabe a todos nós que exercemos algum tipo de função na Santa Missa, entender também por outro prisma essas palavras.
Se somos convidados a estar num lugar, numa festa por exemplo, entendo que não se pode adequar a festa ao nosso gosto e a nossas conveniências. Ser convidado pressupõe que o anfitrião tinha o pleno direito de NÃO NOS CHAMAR se assim desejasse. Ora, de modo muito mais profundo creio que isto se dá também na celebração da Santa Missa. Qual de nós pode arrogar-se o direito de, como convidado, alguém que ali está por Graça e Misericórdia Divinas, comungar o Corpo e o Sangue de Deus do modo como bem entende? Qual de nós pode impor ao Santo Sacrifício nossa “arrojada percepção estética” ou pseudo-inspirada, e acrescentar-lhe todo tipo de modas, apêndices e artifícios que podem comprometer muito a percepção do mistério no coração do povo? Sim, porque a partir do momento que um fiel, por mais devoto que seja, começa a ver a própria equipe de liturgia inventar mil novidades na Missa, está a um passo de achar que a liturgia pode ser modificada a bel prazer de quem quer que seja. Cantos mal escolhidos e colocados estupidamente em momentos inadequados, comentários e reflexões inseridos sem o tão falado discernimento devido; ministros vestidos com roupas sem o menor decoro, como se estivessem prontos para ir a uma feira, cantando com uma postura que reflete qualquer coisa, menos reverência e sequer respeito pelo sagrado; a homilia do sacerdote torna-se momento de intervalo para que se vá ao banheiro, para conversas e porque não para que se possa atender o celular fora da igreja?
Missa Rorate |
Bem, por fim, repito que não quero aqui condenar ou julgar as pessoas, mas sim contribuir para que a Sagrada Liturgia seja mais conhecida, amada e respeitada. O amor de Deus nos ensina que devemos ter nas mãos uma agudíssima lâmina que separe pecado e pecador. Ao pecador, todo acolhimento, misericórdia, amor e instrução. Ao pecado, ódio mortal.
Aprendamos este amor pela Santa Liturgia da Igreja Católica. Voltemos muitas vezes a meditar a frase com a qual iniciei esta reflexão e colocá-la em nosso âmago quando formos exercer nosso ministério na Santa Missa. Enchamo-nos de zelo pela Sã Doutrina da Esposa do Cordeiro, a Santa Igreja Católica Apostólica Romana.
Se salvarmos a Liturgia, seremos salvos por ela.
Com carinho e orações
Roberto Amorim. indigno Escravo por Amor