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Veni Sponsa Christi



               

“Veni, Sponsa Christi,
Et  accipe coronam,
Quam tibi Dominus præparavit in æternum"”


              Será este o chamado ao qual responderá a Igreja, esposa imaculada do Cordeiro, no dia do juízo: “Vem, Esposa de Cristo, e recebe a coroa que o Senhor preparou para ti desde toda a eternidade.” Soe como proselitismo ou não, ou talvez como um insustentável despautério, dada a superexposição midiática de escândalos de todo tipo envolvendo os sacerdotes da Igreja, entre outras chagas que têm sido exploradas ultimamente pelos veículos de comunicação, a verdade permanece única e inalterada: a Igreja é santa e imaculada, esposa eleita do Cristo Senhor, e o pior dos pecados da raça humana não têm a menor possibilidade de manchá-la em sua santidade, que não é oriunda de uma pretensa dignidade dos (in)fiéis, mas antes, proveniente do amor esponsal do Cristo.
                Em diversas épocas de sua historia, a Igreja passou por perseguições e tempestades que por muito pouco não a fizeram naufragar. Tempestades essas que, ainda que compostas de contraposições heréticas  à sã doutrina, minavam os alicerces mistéricos da Igreja, como por exemplo o arianismo, que negava a divindade de Cristo. E mesmo nos tempos de perseguições mais ferozes, como a de Nero, quando os cristãos, sendo jogados como banquete às feras, eram espetáculo nos Circos Romanos, , mesmo nessa época, a Igreja, por força e providência de seu Divino Fundador, atravessou vitoriosa tais intempéries.
                Ora, nos tempos atuais vemos uma verdadeira “cruzada” contra a Igreja e tudo o que faça a menor menção a uma consciência e vivência cristã coerente com a fé recebida dos apóstolos. Se em outras eras os ataques à Igreja eram feitos mirando-se a essência doutrinal (portanto, ataques no mínimo mais consistentes e perniciosos), hoje percebe-se que, uma vez estabelecido o fundamento da fé desta Igreja – e não há outro fundamento senão Cristo Ressuscitado – os ataques resumem-se a aviltar os membros do corpo de Cristo, posto que é impossível abalar os alicerces espirituais da fé católica. Entretanto, ainda que tantos ataques sejam feitos à Esposa Eleita, à alma fiel socorrem as palavras de Jesus: “(...)e sobre esta pedra edificarei a minha Igreja; as portas do inferno não prevalecerão contra ela” (Mt 16, 18).
                Contudo, ainda se poderia pensar erroneamente que a Igreja, numa atitude covarde, buscando por medo ocultar  as mazelas e limites de alguns de seus membros, se pusesse acima de tais acontecimentos, alienada e alienando seus filhos, instruindo-os e encorajando-os a ignorar tais situações. Na verdade, ao contrario do que se possa pensar, a Santa Igreja, como guardiã da Verdade, não tem a razão para temer a perda de fiéis, mesmo porque já diz uma máxima filosófica: não se perde aquilo que não se tem. Longe de manter uma posição temerária e tradicionalista, como alguém que, vendo uma frondosa arvore perder galhos e folhas secas numa ventania, corre para colar de volta na arvore tais folhas, a Igreja não age e jamais agirá desse modo. Ela põe no coração de seus filhos justamente a certeza de que, numa ventania, não se perdem senão galhos mortos, e a poda é necessária para a seiva da árvore irrigar mais e melhor o todo. Assim, assumindo a verdade mística do mistério da salvação, os filhos da Igreja sabem que ela seguirá o seu Divino Pastor em sua Paixão, Morte e Ressurreição.
                Por fim, ultimamente “qualquer pedaço de pau serve para se bater na Igreja católica.”(Padre Paulo Ricardo). Em meio a essa balbúrdia, torna-se imprescindível que oremos e redobremos nossa fidelidade à Mãe Igreja, por ela roguemos com o coração mais e mais apaixonado. Sabemos por meio das palavras do apóstolo São Paulo: Tenho para mim que os sofrimentos da presente vida não têm proporção alguma com a glória futura que nos deve ser manifestada.(Rom 8, 18). Assumamos, portanto, sem medo, a identidade de católicos. Vivamos o martírio da fidelidade, testemunho vivo com o derramar de nossas vidas por amor a Cristo e Sua Esposa! Tenhamos dentro da alma a certeza de que a eleição da Igreja por seu Senhor e Deus a torna Santa e Imaculada! Sem temor, sem dúvidas, sem reservas, tenhamos selada em nós esta grande verdade:
A IGREJA É SANTA!
DEVEMOS AMÁ-LA!



No amor de Cristo,
Divino Esposo da Igreja Santa e Católica,
Roberto Amorim – 30/05/2010

O PREÇO DE NOSSA SANTIDADE


Hoje em meu coração Deus deixou cair um pequeno, mas pungente espinho. Digo “deixou cair” não porque tenha sido descuidado, mas porque permitiu, como mais um sinal de carinho Seu para comigo. Percebo que os carinhos do Senhor não precisam fazer sentido para este tempo, para os olhos e almas que enxergam somente o que passa. O horizonte do eterno, aquele que os olhos e coração puramente humanos não alcançam, é tracejado de adornos que somente a pobreza permite contemplar e saborear. Por muitas vezes, eu não possuo essa graça, mas a Ele apraz me corrigir em Seu Amor para que a vida que desejo viver possa viver em mim e ser também vida para os irmãos.

Neste dia, uma doce angústia me pulsava – e ainda pulsa – no coração. Minha alma se perguntava algo que por certo habita em mim, mas hoje me tocou de modo mais forte e mais doído: Qual o preço de nossa santidade? O quanto nos custa a vida com Deus? Hoje, percebo que, se nada nos custa a vivência de nossa fé, a nossa busca por Deus, também não há um grande valor nela. O quanto te custa a tua santidade é o quanto ela vale. Se a vida em Deus nos custa muito, se a busca de nossa santidade é permeada das renúncias características a um grande amor, se nos é custosa a opção por estar a caminho do céu.., em suma, se nossa santidade nos custa muito, ela vale muito. Mas se, ao contrário, a busca por Deus não tem nos levado a optar muitas vezes por vias que, apesar de dolorosas, ocultam atrás de si a parcela de ressurreição de cada momento; se buscar a Deus não tem sido razão de grandes lutas; se não nos custa nada buscar ao Senhor e Sua Verdade, então, ainda que doa dizer, essa busca não vale nada.

Por certo que não falo aqui de uma busca por Deus na qual o próprio Senhor vá nos obrigar a sofrer o tempo todo. Não há sentido em pensar isso, ainda que muitas vezes nós mesmos insistamos em perguntas infantis do tipo: “Se Deus é bom, por que estou sofrendo?”. Mas é necessário entender que se nos dispomos a uma vida de discípulo, nos é necessário ser temperados por Deus, viver a martyria – testemunho – da opção diária e constante por Sua vontade. É errôneo achar que o SIM a Deus seja apenas um momento de nossa história, quando na verdade, o eco desse sim deve plasmar todo o caminho feito daí para frente.

Penso que no sim de cada dia, reflexo e ressoar do chamado inicial, há sempre um preço a ser pago, há sempre a possibilidade de optar entre a liberdade de ser de Deus e a escravidão de resguardar-se para si mesmo. “Quem ama a sua vida, perdê-la-á; mas quem odeia a sua vida neste mundo, conservá-la-á para a vida eterna” (João 12, 25). Não há uma receita para se seguir ao Senhor sem precisar passar por essa dinâmica de morte e ressurreição: a decisão de pertencer a Deus sempre passará pela pergunta: O QUE TENS DE TÃO VALIOSO QUE NÃO POSSA SER TROCADO PELO TUDO? Tal pergunta foi feita de diversas formas a tantos na história da salvação. A Abraão, Moisés, Samuel, Maria, aos Apóstolos... Assim como cada um desses deu seu SIM ao longo de uma história em que Deus tornou-se mais do que uma ideia, mas uma realidade perfeitamente tangível em suas vidas. Ao mesmo tempo, a mesma pergunta foi feita ao jovem rico, que se afastou sem ter o que responder, justamente por não pagar o irrisório preço de sua realização em Deus.

Termino esta reflexão com uma inspiração completamente providencial. Enquanto redigia esta reflexão, dava-me o Senhor a Graça de partilhar com minha afilhada acerca da vida com Deus. Não mais que de repente, creio que Deus soprou aos ouvidos dela a frase com a qual encerro a reflexão. Seja ela nossa inspiração para nos decidirmos a pagar o preço para vivermos o que Deus nos propõe...

Eu prefiro ficar com meus olhos vendados para o futuro,
Mas continuar olhando os passos que estou dando hoje
(Christine Vecchi)





Com carinho e orações,
Roberto Amorim
10/05/2010 – 21:01h

Alma Missionária




Há em mim uma violenta inquietude. Violenta em sua docilidade e em seu desejo de abandono. Uma voraz vontade de obedecer à razão maior da vida que me é comunicada no mais íntimo de mim. Rebeldia que me rende a um amor que meu próprio coração não é capaz de abarcar ou entender, mas vive e sente ser real.

Os meus olhos pousam sobre o olhar dos demais em torno a mim, pousam sobre os rostos e olhares de estranhos que, estranhamente, para mim, se tornaram preciosos. Parece-me saber seus anseios; enxergar seus desejos mais íntimos, no mais recôndito de seus corações, onde ainda estão fechadas as janelas para a luz de um dia novo. Onde ainda grassa um inverno deslocado de sua época, desnecessário e aprisionador, que não os deixa vislumbrar a Verdade Primeira de suas almas, a PRIMAVERA espiritual que deseja florir suas ruas e bosques interiores. Inverno este que por tantas vezes já me enregelou, e tão somente por desígnio do eterno cuja razão eu não alcanço, por pouco não ceifou minha vida interior.
Olho em seus olhos e em cada olhar encontro uma razão diferente para buscar ainda mais fidelidade à vida que pulsa em mim, inerentemente à minha vontade ou disposição. Uma razão diferente que é sempre reflexo da mesma razão. Parece-me saber qual alimento lhes saciará, e qual verdade os libertará.

Algo dentro em mim sussurra: “Tu podes alimentá-los e libertá-los com a TUA VERDADE!”. Minha? Certamente que não... Não minha por posse eu não a tenho e dela não posso dispor. Mas minha porque me possui, e me inflama, e me envolve. A minha verdade: a de um coração pequeno e frágil, onde o Criador fez caber uma vida tão maior que eu e transfigurou em ressurreição a morte que em mim ainda habita. Uma vida nova que em mim é doce hóspede, contudo é dona de mim. Não me escraviza ou força a nada, mas interiormente me impele a buscar ser dócil a seu senhorio sobre mim. Vida que não me pertence, mas é fruto do Senhor, e para Ele precisa gerar frutos, primícias do Espírito que germinam em cada “SIM” que consigo dizer a esta mesma vida.

Tenho a alma inquieta, doce e rebelde, ainda encarcerada nas limitações de meus medos e fugas. Ainda assim, indômita no seu desejo de obedecer e ir além dos ditames e sonhos covardes de uma mentalidade pobre e mesquinha, que usurpa a si mesma o direito de ser livre em Deus.

Meu coração foi feito para o céu. Minha alma toca o que está no alto, o que de mais excelso existe. E sei que em cada coração dos que me rodeiam habita a mesma busca, ainda que disfarçada em tantos anseios menores.

Tenho dentro em mim todo este mistério, imensurável tesouro recluso de um vaso de barro, frágil e inútil. Mas irrompe em minha história pessoal a descoberta por um desejo de saciar o brado que o Senhor deu na Cruz, nos últimos momentos de sua Paixão: “TENHO SEDE!”. Em mim ressoa este grito, e desejo saciá-lo em sua sede. Não de água, mas de almas... Se Ele mesmo me diz que me envia como cordeiro entre os lobos, desejo eu ir aonde me mandar e trazer de volta os corações que a Ele pertencem. Desejo saciar a sede do Senhor, não importa onde me mande buscar tais corações. A seara é imensa, mas pertence a Ele, e sei que onde quer que eu esteja, estarei sob Seu Olhar, Seus cuidados.

TENHO ALMA MISSIONÁRIA!


“Leva-me aonde os homens
Necessitem Tuas Palavras
Necessitem Tua força de viver.
Onde falte a esperança,
Onde tudo seja triste simplesmente
Por não saber de ti...”
(Alma Misionera – Martin Valverde. Versão: Ziza Fernandes)






Com carinho e orações
Roberto Amorim




Afetividade Transfigurada



Quem de nós pode negar o bem que nos faz as boas amizades que construímos em Deus? Não é verdade que, enquanto caminhamos pela vida, o Pai constantemente espalha flores e pétalas pela senda, que adornam e perfumam o caminhar? Não é também verdade que toda dor partilhada com outro coração compreensivo e carinhoso, parece doer menos? Ainda: que coração, mesmo que resistente e empedernido, não se rende à centelha divina que brilha no olhar de um bom amigo?

Viver uma boa amizade, uma santa amizade, que nos construa, faz parte do mistério da ação Divina em nós. Viver uma amizade em Deus é aproximar-se, comprometer-se tornar nossos as realidades e sonhos do outro, por meio do estar junto, apoiando o que é pra ser apoiado, mas corrigindo com seriedade e doçura o que não pode crescer no outro.

No nosso idioma, a palavra amor só possui uma dimensão, ainda que possamos usá-la em tantas situações diferentes...

No grego, o que chamamos de amor pode-se expressar de três formas: Philos, que conhecemos por amizade, afeição; Eros, o amor erótico, entre o homem e a mulher; o Ágape, o amor total, perfeito, o amor do Pai por nós. Portanto, se a vivência de uma amizade verdadeira nos compromete, tal comprometimento nos expõe, nos despe em alguns aspectos, deixa às claras alguns limites particulares, que pode nos levar a duas direções diametralmente opostas, dependendo do quanto nos deixamos tocar e moldar pelo Senhor em nossa afetividade. Se a nossa convivência com o outro, nosso amor Philos não estiver perpassado pelo Amor de Deus – Ágape – corremos o sério risco de nos perdermos por um caminho de desenganos que nos pode ferir e levar até mesmo ao pecado, mesmo que não intencionalmente.

Assim, falar de amizade em Deus é falar também de cura, da ação restauradora de Deus em nós, amando o outro através de mim, e transformando-o por meio de uma sadia convivência de amor e carinho, purificados das segundas intenções que hoje permeiam tantas relações.

A amizade vivida em Deus tem o poder de ressuscitar o outro dos sepulcros onde ele experimente a morte dos seus sentimentos, de sua fé, de sua integralidade e identidade como filho amado de Deus. Tem o poder de devolver o outro a ele mesmo, sendo a presença discreta que não escraviza, mas liberta até de si mesmo. Amor – qualquer que seja – que não promove a liberdade é prisão sem grades. Tem o poder de ser a ausência presente, na força de uma palavra que tem a capacidade de demorar no coração do outro, fazê-lo pensar e sirva, no mínimo, de incentivo para que deixe Deus fazer sua obra. Tem o poder de resgatar o nosso verdadeiro valor, mesmo quando as carências nos façam baixar o preço e mendigar qualquer pseudo-amor. E, enxergando nosso valor, caminhamos e agimos de acordo com o que somos: FILHOS DO REI.

Que o Senhor nos dê a graça de vivermos intensamente em Deus todos os nossos relacionamentos, especialmente as amizades.

Carinho e orações
Roberto Amorim.