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Alma Missionária




Há em mim uma violenta inquietude. Violenta em sua docilidade e em seu desejo de abandono. Uma voraz vontade de obedecer à razão maior da vida que me é comunicada no mais íntimo de mim. Rebeldia que me rende a um amor que meu próprio coração não é capaz de abarcar ou entender, mas vive e sente ser real.

Os meus olhos pousam sobre o olhar dos demais em torno a mim, pousam sobre os rostos e olhares de estranhos que, estranhamente, para mim, se tornaram preciosos. Parece-me saber seus anseios; enxergar seus desejos mais íntimos, no mais recôndito de seus corações, onde ainda estão fechadas as janelas para a luz de um dia novo. Onde ainda grassa um inverno deslocado de sua época, desnecessário e aprisionador, que não os deixa vislumbrar a Verdade Primeira de suas almas, a PRIMAVERA espiritual que deseja florir suas ruas e bosques interiores. Inverno este que por tantas vezes já me enregelou, e tão somente por desígnio do eterno cuja razão eu não alcanço, por pouco não ceifou minha vida interior.
Olho em seus olhos e em cada olhar encontro uma razão diferente para buscar ainda mais fidelidade à vida que pulsa em mim, inerentemente à minha vontade ou disposição. Uma razão diferente que é sempre reflexo da mesma razão. Parece-me saber qual alimento lhes saciará, e qual verdade os libertará.

Algo dentro em mim sussurra: “Tu podes alimentá-los e libertá-los com a TUA VERDADE!”. Minha? Certamente que não... Não minha por posse eu não a tenho e dela não posso dispor. Mas minha porque me possui, e me inflama, e me envolve. A minha verdade: a de um coração pequeno e frágil, onde o Criador fez caber uma vida tão maior que eu e transfigurou em ressurreição a morte que em mim ainda habita. Uma vida nova que em mim é doce hóspede, contudo é dona de mim. Não me escraviza ou força a nada, mas interiormente me impele a buscar ser dócil a seu senhorio sobre mim. Vida que não me pertence, mas é fruto do Senhor, e para Ele precisa gerar frutos, primícias do Espírito que germinam em cada “SIM” que consigo dizer a esta mesma vida.

Tenho a alma inquieta, doce e rebelde, ainda encarcerada nas limitações de meus medos e fugas. Ainda assim, indômita no seu desejo de obedecer e ir além dos ditames e sonhos covardes de uma mentalidade pobre e mesquinha, que usurpa a si mesma o direito de ser livre em Deus.

Meu coração foi feito para o céu. Minha alma toca o que está no alto, o que de mais excelso existe. E sei que em cada coração dos que me rodeiam habita a mesma busca, ainda que disfarçada em tantos anseios menores.

Tenho dentro em mim todo este mistério, imensurável tesouro recluso de um vaso de barro, frágil e inútil. Mas irrompe em minha história pessoal a descoberta por um desejo de saciar o brado que o Senhor deu na Cruz, nos últimos momentos de sua Paixão: “TENHO SEDE!”. Em mim ressoa este grito, e desejo saciá-lo em sua sede. Não de água, mas de almas... Se Ele mesmo me diz que me envia como cordeiro entre os lobos, desejo eu ir aonde me mandar e trazer de volta os corações que a Ele pertencem. Desejo saciar a sede do Senhor, não importa onde me mande buscar tais corações. A seara é imensa, mas pertence a Ele, e sei que onde quer que eu esteja, estarei sob Seu Olhar, Seus cuidados.

TENHO ALMA MISSIONÁRIA!


“Leva-me aonde os homens
Necessitem Tuas Palavras
Necessitem Tua força de viver.
Onde falte a esperança,
Onde tudo seja triste simplesmente
Por não saber de ti...”
(Alma Misionera – Martin Valverde. Versão: Ziza Fernandes)






Com carinho e orações
Roberto Amorim




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