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"O Teu Amor me Sustentará..."


           

          Gostaria de poder iniciar esta reflexão de forma leve e despreocupada, porque foi justamente desse modo que eu a pensei, e foi desse modo que desejei e acreditei que poderia fazê-lo. Entretanto, não é de hoje que percebo o fato de que inspirações vindas genuinamente de Deus nos custam a serem construídas, pois tendem a rasgar-nos por dentro e sangrar nossas feridas para que continuemos nosso processo de cura, antes de tocar e converter quaisquer outros corações. Tal é o peso e a densidade do que ora escrevo. Desde o princípio destas linhas, noto que minha intenção e desejo não poderão ser realizados sem que haja de minha parte uma entrega para que eu mesmo ouça e experimente a Verdade presente nestas palavras, Verdade essa que não é minha, senão Daquele a quem busco servir a cada dia de modo menos indigno e com mais pureza de coração.        
            A frase com que inicio esta reflexão me parece conter duas realidades aparentemente contraditórias, mas profundamente ligadas entre si. Parece-me ouvir e captar nesta frase, que é na verdade título e verso de uma canção da Comunidade Católica Shalom, a força incomparável do amor de Deus que me sustenta e conduz na caminhada e, ao mesmo tempo, ressoa em meu coração a responsabilidade que tenho para que a Graça de Deus em minha história seja eficaz. É interessante notar que, mesmo essa Graça sendo completa, não anula ou violenta a liberdade humana, e por isso mesmo não nos tolhe em nossa dimensão de responsabilidade pessoal por nossa conversão.
            Confesso que as primeiras vezes que ouvi essa canção, e não é de hoje que a ouço, ela não me atingia por puro e simples superficialismo meu. Como músico que sou, tenho a natural e triste mania de estacionar minha percepção no instrumental das músicas, em seus arranjos e acordes, melodias e consonâncias, relegando a um segundo plano a letra da canção. Bem, o que me consola e tranquiliza é justamente o fato de que Deus conhece nosso coração e sabe bem como fazer para transpor nossas muralhas interiores, de teimosias e preconceitos. E foi isso o que aconteceu comigo, por meio dessa canção, que me foi apresentada pela amiga Hayanne Cristhian há cerca de um ano. E hoje, talvez por conta do momento que vivo ou talvez por uma maior maturidade espiritual em meu caminhar, percebo o que Deus deseja me falar por meio dos versos desta composição.
            “O Teu Amor me sustentará /A Tua Graça não me faltará / (...) A Tua Graça me bastará...”. Acredito firmemente que, quando Deus inspirou o coração do compositor a escrever esta letra, já pensava em mim e na forma como planejava atingir-me. Percebo o Senhor me dizendo que, por mais que eu encontre justificativas para meus erros e pecados, por mais que eu busque razões em minhas carências para embasar o meu “direito de errar”, existe uma razão superior a qualquer outra para que eu continue a caminhar com decisão pela santidade: A Graça de Deus é o que me sustenta e me basta! Nenhuma outra realidade pode tomar o lugar desta certeza em minha história, nenhuma outra certeza ou opinião pode sobrepor-se a esta. Esse Amor e essa Graça são as fundações e alicerces dos meus pés bem fincados no chão da estrada chamada conversão, e é deles que preciso tirar as forças para suportar as dificuldades.
            Tudo isso pode soar muito romântico ou como um sonho bom se não observarmos realidades concretas por meio das quais essa ação de Deus em nossa vida se manifesta. E posso falar por mim que, por meio de sinais muito singulares e oportunos, tenho vivido muitas vezes a triste experiência de perceber claramente sinais de Deus ouvindo minhas súplicas de socorro e me perceber então ignorando categoricamente Seus Braços estendidos em minha direção. Ocasiões nas quais temos claramente diante dos olhos da alma, e às vezes diante de nossos olhos físicos também, a oportunidade de não pecar, de não errar, de sermos melhores, mais aprimorados e resistentes com nosso homem velho, e decidimos enveredar pelo caminho mentiroso de uma vida sem Deus. Poder-se-ia pensar: “Mas será o caso de que um simples momento de negação de Deus pode condenar toda uma vida?”. Bem, um ato ruim tomado muitas vezes conduz a uma atitude rebelde, que por sua vez pode conduzir o coração a um vício, e desse modo acabamos por acorrentar nossa vida a uma constante opção pelo pecado, fazendo dele um projeto de vida, “justificando” tudo isso com nossas carências e desejos desregrados.
            Se tivermos o cuidado de abrirmos os olhos para percebermos a ação de Deus em nosso caminho, perceberemos o quanto Ele usa circunstâncias as quais não damos a menor importância, situações das quais pensamos: “O que essa situação, conversa, passeio, bate papo virtual tem a ver com santidade?”. E tem sido por meio da presença de pessoas que, com o mesmo desejo de santidade e busca interior, tenho notado os sinais desta Graça de Deus para mim, que não me desampara, e o quanto isso é providência divina em minha história de vida. Ignorar tais presentes seria mais uma vez desdenhar e opor-se à Misericórdia de Deus para comigo. Perceber nos olhos de outros que, ainda que tendo as mesmas fraquezas que eu, não desistem do caminho, tem sido a concreta manifestação de um Amor que me sustenta apesar de todo pecado que eu possa cometer, muito mais eficiente do que um milagre em que eu veja cair pão do céu ou o mar de Ipanema abrir-se no meio. Acredito que o milagre maior que Deus deseja para nós seja abrir de par em par as portas de nossa alma para nele fazer sua morada.
            Toda essa ação de Deus, essa Graça que nos basta e não nos desampara em nenhum momento exige de nós uma resposta, uma cooperação prática. Nossa parte precisa ser cumprida, e cumprida bem, pois Deus já cumpriu a Dele, deixando à nossa disposição o Seu Amor e Misericórdia. E é confortante e maravilhoso saber que, mesmo que essa atitude precise partir de mim, Deus já preparou a situação para que eu saia dela como vencedor.
Bem, hoje decreto para mim que quero uma história diferente, uma história na qual a ação de Deus em mim tenha oportunidades constantes de me fazer melhor. Certa vez compus uma canção na qual dizia: “Não quero interpretar papéis que para mim não foram feitos”. Sei bem que o Diretor de minha história é Deus e sei que Ele não deseja personagens, mas quer que eu livremente entregue à Sua Graça a essência do que sou, para que Ele me faça mais forte, fiel, decidido e santo.
Hoje, mais uma vez sinto pulsar em mim uma promessa e um princípio divino, que me foi dado tempos atrás, e colocado num outro texto que aqui mesmo nesse blog já publiquei, chamado UM ESTILO DE VIDA. Convido a todos que o leiam também! Mas faz-se necessário atualizar em mim o sentimento que a promessa de Deus realizou em meu coração, e assim concluo nossa partilha de hoje. Desejo que muitos corações possam fazer valer a ação sobrenatural da Graça de Deus em suas vidas, por meio de uma vida decidida pelo Senhor, de intensa busca de todos os meios necessários para vivermos a santidade. Encerro com as palavras que o Senhor inspirou a mim na época em que escrevia a outra reflexão aqui mencionada. Ainda que as palavras, ao nosso ver, possam estar localizadas num lugar distante no tempo, a eternidade mora dentro delas, fazendo com que sejam sempre vivas e atuantes. Que assim seja em nossa história!

Se fores fiel em tua busca, Eu te farei fiel na santidade que desejo para ti.

Com carinho e orações,
LAVS DEO.

Roberto Amorim
Indigno Escravo por Amor da Virgem Maria
08 de março de 2012


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