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CUIDA DE TUA VIDA, POIS ÉS MEU


Nesta tarde confrontei-me com a dura realidade de que tenho vivido uma santidade de vitrine, na medida em que, olhando para minha vida, encontrei bem poucas características da violência do combate que creio viver. Deparei-me com o fato de que a santidade não se constrói somente de boas intenções. Estas são somente o fruto de uma fé que precisa ser provada no fogo, e forjada com as marteladas da realidade que chamamos de vida. Vida cotidiana, vida particular... vida que eu preciso reaprender a viver e a cuidar. E percebo que se desejo para mim as mais altas metas que no céu se encontram, é necessário cravar agora os alicerces no chão do tempo que se chama hoje.


Com muita sinceridade e dor, percebi o pouco que tenho cuidado de mim naquilo que me faz ser o que sou. E o que sou é formado por tudo aquilo que compõe meu horizonte de sentido, ou seja, tudo que para mim é simbólico e me traz algum significado. Esquecendo-me deste horizonte, esqueço de mim mesmo e me permito ser aquilo que não reflete minha essência. Vivo o contrário do essencial, a aparência. Aparento ser, mas não sou. E assim construo um castelo de areia, que ao menor toque das ondas ou dos outros irá desmoronar-se. E não é isso que quero, nem para mim nem para os meus.


Não quero estar pela metade no que existe de divino na minha vida, nos sinais carinhosos que Ele achou por bem dispor em meu dia a dia. Sua Presença em mim é atestada pelo que de concreto tenho diante dos olhos, pelo que minhas mãos tocam, pelos perfumes que sinto e pelos sons que ouço. De outro modo não tenho o direito de pedir grandiosos sinais divinos se o discreto milagre diário que Ele me concede não é por mim contemplado com a reverência que afirmo ter. Por outro lado, percebo também que os outros precisam ter de mim o meu essencial para que eu seja realmente amado pelo que sou sem os holofotes da vitrine. O toque dos outros em mim precisa ser naquilo que é real em mim, para que eu não seja ilusão e lembrança doída na vida de ninguém.


Assim tenho hoje diante de mim a certeza de que a santidade que almejo não virá das biografias dos santos ou mesmo das parábolas do Evangelho contadas por aquele que digo ser meu Dono e Senhor. Não virá também da prédica de um pregador ungido ou dos hinos de louvor que enchem os templos. Mais ainda: nem mesmo do sacrifício do Calvário do Altar jorrará a santidade que para minha vida desejo se não confrontá-la com uma realidade que a exija de mim no dia a dia.


Nesta tarde confrontei-me com a dura realidade de ter descuidado do que é essencial em mim. E a santidade só deixará de ser vitrine se eu tomar a peito a frase que intitula esta reflexão. Em meio às aparências muitas vezes sufocamos nossa essência. Peço perdão ao Senhor e àqueles que por conta dos meus descuidos dei a impressão de não serem essenciais em minha vida.


Termino com algo que me disse o Senhor nos primeiros dias desse ano, e desejo que eu saiba ouvir e tornar real em minha vida:


“A santidade está nas minúcias.”


Com carinho e orações
Roberto Amorim

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