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Os Grilhões da Liberdade


Começo esta reflexão com um profundo sentimento de gratidão ao Senhor por tudo que me tem concedido viver nos últimos tempos, que mesmo não sendo coisas muito grandes aos olhos humanos, somente Ele e eu sabemos o quão liberto tenho sido de tantas coisas, embora muitas vezes ainda me sujeite aos meus antigos calabouços de medos e carências. Sei porém que Ele tem total controle de minha vida e fará o melhor por mim sempre, dando-me gradativamente a plena liberdade em Seu Amor à medida em que eu me deixar amadurecer por ele.

Encanta-me que, ao contemplar a ação divina na vida humana e a dinâmica de Sua intervenção histórica, não raramente Ele nos surpreenda com a poesia dos contrários, construindo em nossa vida realidades que à primeira vista não parecem fazer o menor sentido, mas que gradativamente desvelam ante os olhos da alma as rimas e versos do Seu Coração Eterno. Aliás, Ele mesmo é o “Grande Contrário” na poesia do amor: o Eterno que habitou no tempo, o Imensurável que se escondeu no finito, por amor aos que não mereciam ser amados. E a partir desta divina combinação dos contrários, de opostos que se intercalam, nesta manhã a vida me inspirou esta reflexão a partir de uma pergunta que aqui divido com todos os meus irmãos de caminhada: É uma obrigação estar com quem se ama?

O que nos trará a resposta a esta pergunta será justamente a poesia do amor de Cristo, amor este que resgata o ser humano à sua essência e lhe devolve a dignidade, tantas vezes esquecida e renunciada por força da secularização e do relativismo que o mundo hoje vive.

O profundo e revolucionário toque do Amor de Deus em nós nos acorrenta à condição de seres plenamente livres de tudo o que nos tire a identidade de filhos amados do Criador. Parece absurdo e paradoxal acolher tais idéias, mas não há como ser tocado por Deus sem viver esta experiência. Sentir que dentro de si bate o mesmo coração de sempre, mas agora num compasso diferente e ter os olhos da alma mirando uma meta que está além desse mundo. Perceber que é simplesmente impossível abdicar desta condição, ou como o apóstolo Paulo, considerar-se um crucificado com Cristo. Perceber-se como plenipotenciário de si na medida em que o nosso amor, em resposta ao amor de Deus, nos dispõe a uma entrega total a Ele que nos libertou. Assim nos ensina esta pequena parábola:


Um escravo prestes a ser morto por seu senhor por estar lhe devendo uma imensurável quantia em ouro é encontrado no campo, em prantos, por outro senhor que, comovido com a dor do escravo, resolve comprá-lo por uma fortuna ainda maior. O jovem escravo, profundamente agradecido, é conduzido por seu novo senhor a uma linda e vasta planície e lá chegando, este lhe desacorrenta os pés e lhe tira as algemas e lhe diz: “Vai, pois agora és livre!”. O escravo, desconcertado e surpreso, sem pensar muito, sai correndo pela planície rumo à liberdade sonhada e some dos olhos do senhor, que ali permanece, feliz por ter libertado aquele jovem da morte certa. Na noite seguinte, porém, aquele ex-escravo apresenta-se às portas da casa do senhor que o libertara e, atirando-se aos seus pés, diz: “Hoje sou livre graças a ti e te devo toda a minha vida. Portanto, na minha liberdade, opto por pertencer a ti, e servir-te pelo resto de meus dias!”

Claro está nessa pequena fábula que assim é o Amor do Senhor por nós, que nos resgatou sem nada nos pedir em troca, nem mesmo obediência. E profundamente tocados pela gratidão ao Senhor, o coração dos que são libertos sente-se impelido a viver e servir Àquele que nada poupou de si por nós, que tudo nos deu sem que merecêssemos. E ainda mais comovente se mostra o amor do Senhor quando respeita a liberdade daqueles por quem se entregou. Este é o amor genuíno, nascido daquela inigualável fonte chamada Coração do Pai.

Assim, na verdade, toda renúncia que fazemos tudo que nos decidimos a viver em obediência à Esposa do Cordeiro, a Santa Igreja Católica, é tão somente a resposta a um Amor imensurável de um Deus que se despojou de toda a Sua glória e se entregou no pão e vinho consagrados no Altar da Santa Missa. Mais ainda: resposta esta que não nos é exigida pelo Senhor, que não nos violenta ou constrange, mas resposta que deve ser fruto de um coração apaixonado pelo Senhor.

Cada um de nós, jovens PHN, tivemos a graça de um dia encontrar-nos com Aquele que nos desvendou toda a nossa preciosidade. E renunciar a isso talvez não nos leve a perder o céu, mas pode nos levar a perder a essência de nossa vida e perder mesmo a graça de uma vida liberta, curada, transformada... Mas tudo isso se tivermos a coragem de nos deixar “acorrentar” na autêntica liberdade de filhos de Deus, renunciando por amor ao Cristo à falsa liberdade que o mundo nos mostra. Fomos comprados pelo Amor do Senhor, juventude PHN. Saibamos optar pelos grilhões da liberdade em Deus, que nos fará dia após dia sinais da Verdade que aponta o Caminho para a Vida Nova em Deus.

Acorrenta-nos, Senhor, ao Teu Amor.
Com Carinho e Orações
Irmão Pelicano

2 comentários:

  1. Preciosas palavras,
    Fiquei emocionada!
    beijo com sabor de vida!

    Sua irmã,
    Clara

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  2. Santo Espírito de amor, que geras e regeneras todas as coisas, e inspiras tão profundas e instrutivas palavras...Obrigada! Obrigada por este texto , obrigada por este irmão que o concebeu... Obrigada!

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